Por enquanto o celular fica desligado

julho 12, 2017

Celular Desligado
Foto por Helloolly

Hoje finalmente desliguei meu celular. É provável que eu ligue ele amanhã de novo, talvez a tarde, mas por enquanto, não quero saber quando vou ligá-lo novamente. Antes do meu celular atual, tive um LG que travava se você recebia duas mensagens ao mesmo tempo. O sistema operacional dele ainda era Java, e não existia a possibilidade de instalar milhões de aplicativos, incluindo o whatsapp. Costumava desligar esse LG toda noite. Perdi o costume de fazer isso porque meu celular atual não desperta desligado. Não desperta, simples assim. No início eu o deixava em modo avião, até que descobri algumas funcionalidades que desligam as notificações (vibração e som) durante um período que você determina. O LED ainda continua piscando, mas eu me acostumei com a luzinha iluminando e não-iluminando o quarto toda noite. A gente se adapta a tudo.

Percebi que meu celular não era desligado há meses. A bateria nunca acabava, qualquer oportunidade eu deixava ele carregar um pouquinho. E já tem um bom tempo que estou desanimada, estressada, sem vontade de falar com ninguém, e mesmo assim, gasto um bom tempo do meu dia parando pra responder mensagens, dando atenção pras pessoas, tirando notificações e ouvindo meu celular vibrando num canto, sem vontade nenhuma de ver o que é. Não gosto quando me ignoram, logo, nunca consigo ignorar. Fico pensando que tem alguém do outro lado da outra tela esperando pra ser respondido, e no quanto é desconfortável receber uma mensagem dias depois de ter enviado. Escuto a vibração do meu celular e fico pensando se não seria importante, se não é alguém precisando de um favor, ou até mesmo precisando conversar... Uma observação interessante: as pessoas só falam delas mesmas, nunca perguntam como você está, se está ocupada, se o que elas precisam poderia ser encontrado no Google. Conversar por mensagens nos deixou ainda mais alheios a situação do outro.

Ao mesmo tempo, me sinto frustrada e indiferente com isso. Já aprendi que não se deve falar muito, que a maioria das pessoas não estão interessadas em ouvir o que os outros têm a dizer, e que basta alguns minutos de conversa para entrar em uma competição. A competição de quem sofre mais, a competição de quem já leu mais livros, a competição de quem tem mais miopia, a competição de quem bebe mais café, a competição de quem fica mais irritado com a quantidade de mensagens que recebe... Tenho sentido uma dificuldade cada vez maior de conversar com as pessoas, e dessa vez, não por timidez ou ansiedade, mas por tédio. Eu mesma me vejo entrando nessa competição de "se para você... imagina eu que...". Fico tão irritada comigo mesma tanto quanto fico irritada com os outros. Me pergunto se as pessoas estão competindo mesmo ou se o problema é que não aprenderam outras formas de conversar. Ou eu devo dizer: se não aprenderam uma outra forma de viver, que não essa de ser sempre a pessoa que se sai melhor em tudo — até na desgraça?

Eu sei que daqui há algumas semanas isso vai ter passado. Vou ter ligado o celular de novo, e voltado a conversar novamente com todo mundo, sem me entediar ou me irritar com as competições que as pessoas entram. Sei porque já passei por isso antes, e ainda vou passar várias vezes. Só estou estressada e brava. E quando esses sentimentos se forem, vou ser a mesma pessoa de sempre, empolgada com alguns minutos de conversa com qualquer um que passar. Vou até me sentir mal por ter pensado isso da humanidade. Mas eu não vou ligar meu celular de novo, exceto se for muito, muito importante — para mim, e não para os outros. E vou continuar no meu canto, sem falar muito, sem procurar ninguém, só descansando. Não creio que eu vou perder muita coisa boa.


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10 comentários

  1. "a maioria das pessoas não estão interessadas em ouvir o que os outros têm a dizer, e que basta alguns minutos de conversa para entrar em uma competição."

    Isso é tão real que me deixou um pouco triste, a gente mesmo é pego no meio disso e é uma merda.

    http://www.sextadimensao.com/

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    1. Siiim! É difícil escapar. Ficar de fora é quase o mesmo que perder a competição, e ninguém gosta de perder né?

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  2. Só li verdades, e como você disse , até nós mesmos não escapamos de participar dessa competição infeliz.

    Beijinhos

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    1. Uma pena né Eva? Espero que a gente consiga encontrar formas melhores de lidar com os outros :)

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  3. acho que vou tomar seu texto como exemplo e vou evitar o celular também. essa semana já desinstalei duas redes sociais. estou me atendo a blogs e leituras, conversando se sou chamada e se posso atender, e por aí vai. buscar o f5 a cada minuto tem me deixado muito triste por perceber o quão refém sou da internet.

    beijão e boa sorte com o aproveitamento do outro lado da vida: o offline!

    Helen
    um velho mundo

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    1. Eu desinstalei algumas redes depois de religar o celular. Percebia que eu entrava constantemente e sempre ficava um pouco pra baixo quando via o que o pessoal anda fazendo (e olha que a maioria das pessoas que eu sigo são artistas, quadrinistas, ilustradores...). Blogs eu só leio pelo computador mesmo, acho péssimo comentar pelo celular, e gosto de deixar comentários hehehe

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  4. Você está certa, as pessoas só falam de si mesmas. Ontem de madrugada eu estava bem doente, e duas pessoas me mandaram mensagem para falar de suas vidas, perguntaram superficialmente sobre mim, e depois ficaram falando de seus sofrimentos amorosos. É difícil encontrar alguém que realmente se importe de volta, e isso desanima a continuar conversando :c

    Com amor,
    Bruna Morgan

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    1. E como desanima! Já passei por situações parecidas com a sua, e ainda por cima costumava achar que era eu quem era egoísta, querendo um pouco de atenção pra mim (sendo que na maior parte do tempo eu é quem estava me doando para as pessoas).

      Quando a gente começa a perceber que estamos bem com nossa própria companhia, com nossa arte, literatura, e etc. e compara com os problemas que os outros trazem, fica difícil não se fechar pras pessoas. Gosto dessa troca que acontece, mas quando eu coloco na balança, parece que a troca só acontece de um lado. Como tu disse, desanima a continuar conversando :(

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  5. Eu sei que tô comentando meio tarde aqui, mas, caramba, que texto. É incrível como sua alma tá nele, existem várias formas de ler, e tipo, uau, eu senti demais essa postagem. Eu me vejo muito em você, na questão de lidar com as pessoas, dos momentos que me dá vontade de desligar tudo, por justificativas internas muito parecidas. As vezes me irrito por me pegar insistindo em conversas que, como você disse, são puras competições ou vazias, por temática mesmo.

    Uma das melhores postagens que eu li, me deu vontade de postar novamente AISUAHS, acho que isso que é legal no blog. Eu não sei se o ser humano tem uma necessidade de competir ou coletiva de entrar em coisas que não te acrescentam mas, me sinto muito frustrado o tempo inteiro quando tenho muitas relações durante o dia e no final sinto que foram todas tão vazias e de uma forma arrogante me sinto tão mal por ter participado daquilo. Eu não sei se arrogância é a palavra certa. Só sinto que o lugar e o momento de falar é errado o tempo todo, e me vem na mente o quanto eu devo começar a valorizar ainda mais o silêncio. O desligar o LG, sabe? E deixar lá...

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    1. Tarde nada, você sempre aparece em boa hora! xD

      Também me identifico muito contigo Pedro, com teus comentários e postagens (que aliás, estão fazendo falta rs).

      "me sinto muito frustrado o tempo inteiro quando tenho muitas relações durante o dia e no final sinto que foram todas tão vazias e de uma forma arrogante me sinto tão mal por ter participado daquilo." Me sinto assim também! Piora quando percebo que mantive a relação por meses e no fundo ela não me acrescentou nada (exceto talvez, que não se deve manter certas relações com certos tipos de pessoas). A vontade de desligar o LG pra sempre numa hora dessas é bem grande rsrs

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