Da minha falta de alma

setembro 18, 2015

Meu vizinho está em obras, ou parece que está, já que tem um motor ligado o dia todo, fazendo um som agudo e irritante, tipo aqueles aparelhos de cortar piso. Além disso, o rádio dele também está ligado, tocando umas músicas sertanejas antigas, bem de corno mesmo. Estou no cômodo mais distante da casa e parece que essas coisas estão do meu lado. Meu vizinho tem problema de audição, então provavelmente ele não tem a mínima ideia do incômodo que está causando - se é que sabe que essas coisas estão fazendo barulho. 

Parece que estou reclamando, ou com raiva, mas não estou. Acreditem. Fiquei a semana toda pensando no que postar aqui no blog, mas de todas as ideias que tinha, nada me parecia apropriado, não sentia que eu ia realmente colocar "minha alma" no post que escreveria. Escreveria algo forçado, e não gosto disso. Também pensei em tirar as fotos do Desafio Primeira, que participo lá no Instagram, mas, mesmo que eu tivesse a ideia, a foto não parecia boa. Parecia sem vida, sem beleza, apenas um clique qualquer. E assim também parece a minha vida nos últimos dias: sem vida, sem beleza... É por isso que não me irritei com o barulho, apesar de barulho sempre me incomodar, ando tão desanimada que não tenho forças nem pra me irritar com o vizinho. 

Desanimada. Desânimo. Vocês conhecem a origem da palavra desânimo? Desânimo vem do latim des + animus. O prefixo "des" quer dizer falta, e "animus" (anima) é alma, sopro de vida. Sem alma, sem vida. Traduz bem como estou me sentindo, e eu sei que não sou a única. Conversei sobre isso com algumas pessoas que conheço, principalmente com pessoas que estudam comigo, e quase 100% disseram estar se sentindo da mesma forma. "Estou precisando que alguém me pegue e vá empurrando pra fazer as coisas". Não tenho vontade de fazer nada. Levanto de manhã, e com muito esforço, me arrumo para ir a aula. Atraso todos os dias, sem me importar. Eu, que sempre odiei chegar atrasada. Não escuto nada do que os professores falam, ou, se escuto, esqueço assim que saio dali. Fico rabiscando o caderno. Tenho preguiça de conversar com meus colegas. De andar até em casa. De fazer comida, de arrumar a cozinha, de ligar o computador... Minha vontade é de ficar deitada o dia inteiro, sem fazer mais nada. Queria ser como um celular, que basta ligar na tomada e no outro dia está no pique de novo. Eu durmo, e no outro dia, acordo como se tivesse sido atropelada por um caminhão.

Não falo sobre isso com todo mundo. De alguma forma, as pessoas fazem você sentir que seu cansaço é inferior ao delas, que você não tem direito - não mais que elas - de se sentir assim. Afinal, eu "só estudo" e "não tenho nada para fazer o dia inteiro", enquanto elas trabalham, cuidam da casa, dos filhos e sei lá mais o que. Eu sei disso. Sei que fazem mais. Mas meu corpo, ou melhor, minha mente, insiste em querer ficar deitada na cama, sem fazer nada. Não por preguiça, eu nunca tive preguiça dos meus sonhos, dos meus hobbies, mas por desânimo. Por Deus, parece que realmente me falta vida, como se eu tivesse esquecido uma parte dela em algum dia desses, em algum acontecimento. Eu paro e me pergunto o que foi que aconteceu, e se isso vai passar, e não consigo encontrar uma resposta. Pensei que isso iria passar no feriado, mas a única coisa que mudou foi que passei a dormir umas 15 horas por dia ao invés das 8~9 que eu estava acostumada. E o feriado passou e eu voltei ainda mais cansada que antes.

Estava pensando em algumas coisas, e tive uma vontade imensa de simplesmente jogar tudo pro alto. Não falo de desistir do meu curso, ou de parar de sair de casa e ficar só deitada, mas de deixar o celular desligado em um canto qualquer, o notebook também, abrir meu guarda-roupa e pegar meia dúzia de roupas que gosto muito e doar todo o resto. Fazer o mesmo com tudo que tenho. Tirar todo o excesso da minha vida e passar a viver com o mínimo possível. Talvez seja esse o motivo da minha falta de vida, não sobra muito pra mim se eu tenho que gastá-la com tudo que eu tenho. 



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12 comentários

  1. Eu estava com um desanimo também, fiquei duas semanas sem fazer absolutamente nada, parecia um zumbi de casa para o trabalho para casa.
    Depois eu comecei a fazer coisas que eu não fazia, ou melhor voltei a fazer coisas que eu não fazia há tempos.
    Bj

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    1. Oi Yasmim! Que bom que seu desânimo passou, também fiquei uns dias parecendo um zumbi, com a diferênca que ia pra aula (ser um zumbi lá também).

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  2. Eu passei por isso. Na verdade, estou passando ainda. Havia dias, muitos deles, que eu simplesmente não queria me levantar da cama. Não queria. Eu tinha que levantar pra consultar os processos, elaborar recursos e no fundo, eu só queria "estar morta". Em maio, cheguei num ponto de pedir ajuda profissional, mesmo não acreditando que um psicólogo pudesse me ajudar. Mas era isso, ou perder o emprego, ou morrer. E afinal: o que custa tentar?
    Fui na psicóloga, conversamos muito. Ela não me curou, mas me ajudou a entender o que era a depressão, ou a falta de ânimo. Ela me explicou de uma forma científica, porque todas as outras pessoas só sabiam me dizer isso: 'ALGO ESTÁ ERRADO EM SUA VIDA". "DEVE SER CULPA DE ALGUÉM". "VOCÊ NÃO TEM FÉ".
    Tanto, que parei de falar com meus familiares sobre meu problema. Porque de uma coisa eu tenho certeza: não é culpa de ninguém, não é culpa de algo externo. Em mim, a coisa é mais agravante porque não tenho sedução pelas coisas do mundo. Para muitos, estar numa balada e ser paquerada a noite toda, é motivo de se viver. Eu odeio ser paquerada e odeio baladas. Para muitos, comprar uma televisão de última geração é sinal de poder. Eu nem ligo a televisão que tenho aqui na minha casa.
    Por fim, depois de muito relutar, aceitei a proposta de meu médico para tomar antidepressivos. Pensei: "sou mais uma louca, uma doente mental." Mas assim é o que tem acontecido comigo.
    Já me disseram tantas coisas. Já me mandaram ter filhos. Tenho tomado copos de vinhos secretamente durante a noite e remédios pra dormir, porque eu também não durmo.
    Veja que, meu caso não é como o seu: você está desanimada e longe de mim comparar sua situação com a minha. Só quis te contar, porque é bom quando a gente percebe que não somos as únicas pessoas sem tanto ânimo no mundo. Afinal, estão todos tão felizes, no Facebook, no instagran...haverá algo de errado conosco? Na verdade não. Pintamos uma vida que não temos nas redes sociais, Marina. A bem da verdade, é como você disse: o desânimo está geral. As pessoas andam sem vida por aí. Só possuem felicidade com goles de cachaças, só dormem com soníferos. Algo está muito errado. Eu preciso terminar o meu vinho.

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    1. Tem muita gente por aí que gosta de jogar a culpa em nós mesmos para coisas que acontecem em nossa vida, mas que não temos controle. Algumas vezes falam de punição "você está pagando por algo de ruim que você fez". Não tenho um pingo de paciência pra isso.

      "Em mim, a coisa é mais agravante porque não tenho sedução pelas coisas do mundo. Para muitos, estar numa balada e ser paquerada a noite toda, é motivo de se viver. Eu odeio ser paquerada e odeio baladas. Para muitos, comprar uma televisão de última geração é sinal de poder. Eu nem ligo a televisão que tenho aqui na minha casa. " Me identifiquei muito. Também não tenho sedução pelas coisas do mundo, meu grande sonho é morar em uma casa pequena, bem pequena, com poucas coisas, e se possível, ter um jardim. Não penso em ter carros, roupas de marca ou qualquer coisa que as pessoas lutam a vida toda pra conseguir. Também não gosto de balada, na verdade nunca fui em uma. Sei que é o tipo de lugar que não é pra mim.

      Sobre antidepressivos: tenho medo deles. Parece bizarro vindo de alguém da area Psi, mas tenho medo desse tipo de remédio. São fortes demais, costumam deixar a pessoa vazia, e podem até viciar. Não sei como está sendo pra você, cada um sabe de si né?

      É bom saber que existem outras pessoas no mundo, não porque também estão sofrendo, mas porque você não se sente tão sozinha assim. Como você mesma disse: todo mundo parece tão feliz na internet.

      Obrigada pelo comentário, mais uma vez <3

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  3. Acabei de escrever um post sobre isso tbm. Está complicado levar a vida porque parece que nada está bom. Falta energia, vontade, coragem. Também sinto-me desanimada e queria entender qual a razão disso. Espero que as coisas fiquem melhores para nós.

    Beijos,

    www.algumasobservacoes.com

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  4. Oi, Má!
    Eu estava falando com a Fê sobre isso, vi que ela também comentou, e acho que o mundo que vivemos hoje nos deixa sem alma.
    É tanta cobrança, é tanto TER que esquecemos de fazer o que realmente amamos e buscar o nosso ser.
    Acabamos sentindo que falta algo eternamente, ficando desanimadas e fazendo a vida seguir um rumo lento.
    Mas linda, tenha fé que são fases. Busque mentalizar coisas boas, faça algo só para vc e esqueça os outros. Tudo vai melhorar.

    Beijos

    Meu Meio Devaneio

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    1. Vou fazer isso, pensamentos bons atraem coisas boas, não é o que dizem?

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  5. Oi, Marina! Hoje eu quase pulei no pescoço de um colega da firrrma que ficou batucando uma música logo as 7h da manhã. E eu tô com ânimo pra reclamar! rs
    Nunca tinha parado pra pensar na morfologia da palavra desânimo.
    Às vezes me obrigo a sair de casa porque me encontro ensse estado de precisar de alguém pra me empurrar, sabe? E eu acordo já cansada, sem vontade.
    Eu detesto qdo as pessoas querem competir pra ver quem está mais cansada. Ou quem tem mais doenças. Ou quem tem mais miopia. Gente, pra quê? Cada um sente de um jeito, poxa. Pra isso que temos blog, né? Pra desabafar em sermos julgadas.
    Gostei muito da sua reflexão no final. Mas cuidado pra não se desfazer de tudo que você tem e se arrepender depois. Sou muito a favor do desapego, mas consciente.
    Um beijo!

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    1. Quem dera eu estivesse com essa agitação toda, não pularia no pescoço do cara, também não estaria batucando tão cedo hahaha

      Outro dia vi isso em um perfil do instagram, um desses de humor, falando algo como "odeio quando começo a falar dos meus problemas e a pessoa faz uma competição de quem sofre mais", só então percebi que fazemos muito isso. Todo mundo sabe que o outro está cansado, mas não muda o fato de que você também quer desabafar né? E eu sempre ganho no quem tem mais miopia rsrs

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  6. "Não falo sobre isso com todo mundo. De alguma forma, as pessoas fazem você sentir que seu cansaço é inferior ao delas, que você não tem direito - não mais que elas - de se sentir assim. Afinal, eu "só estudo" e "não tenho nada para fazer o dia inteiro", enquanto elas trabalham, cuidam da casa, dos filhos e sei lá mais o que."

    Por isso quase não comento também, porque até na faculdade, entre pessoas que só estudam, há competição. Colocam-se nas piores condições. Ser humano, né? Quer se superar em tudo: se não no poder, no sofrimento.

    Fico muito desanimada quando não consigo parar e fazer algo que gosto, ou simplesmente fazer nada. Começo a só "ir indo", sabe? Como se estivesse boiando no mar deixando ele me levar. E isso acontece muito comigo em fim de semestre, porque não consigo parar. Por isso na maioria dos meus textos falo dos pequenos detalhes e momentos... às vezes compartilho, invento ou até me lembro.

    Quanto às roupas eu não sei, mas se sente que os excessos está te fazendo mal, tire férias para você mesma. Simplesmente fique sem o celular um dia. O celular nos conecta com o mundo e exige muito de nós. É maravilhoso conversar com todos os amigos, mas quem conversa com todos os amigos o tempo todo e pensa sobre tudo o tempo todo e consegue relaxar? A gente gasta nossa energia sem ver.

    Acho que eu poderia falar e falar... Mas sabe quando você duvida que esteja sendo relevante? Acho que vemos muito o mundo a partir de nós mesmos, quer dizer, eu vejo muito o mundo a partir de mim mesma e acabo projetando isso nas outras pessoas, achando que sei, de alguma forma, do que precisam, e isso é tão ilusório!

    E pelo fim do seu texto, talvez tudo isso seja o começo de uma mudança.

    Beijos, Marina!
    E pequenos bons momentos que te encham de vida! ;)

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    1. Foi o que a Lívia disse logo acima: uma competição pra ver quem sofre mais.

      Você conseguiu expressar exatamente o que eu sinto! Boando no mar, a deriva. Vou levando até chegar um dia em que posso descansar e botar as coisas no lugar.

      O celular estava me tomando muita energia. Tinha que responder um monte de mensagens, entrar em redes sociais, desativar notificações de alguns aplicativos, jogar uns joguinhos. Na verdade, não tinha que fazer isso, mas me sentia como se realmente tivesse. Atualmente, estou deixando ele jogado na mochila o tempo todo, só lembrando de colocar na cabeceira pra despertar. Não posso me arriscar perder a hora!

      Tudo bem falar e falar, às vezes a gente consegue projetar de uma forma muito fiél aquilo que a pessoa é.

      E obrigada pelo comentário <3

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