Estavam sentados em um banco na praça, um rapaz e uma moça. Falavam sem parar.
O rapaz, completamente apaixonado, estava atento a história que a moça contava, contemplando a como se fosse uma divindade. A moça, empolgada, tagarelava sobre alguma coisa que não parecia importante. Eu observava de longe. Eles pararam de falar, talvez ela tivesse feito uma pergunta, e ele, distraído, não percebeu. Ou apenas pararam de falar porque não havia assunto. Eu era apenas um intrometido, que observava de longe. Não os conhecia, nem sabia do que falavam, apenas olhava.
Vi quando a moça sorriu, timidamente. Vi quando começava a abrir a boca, para voltar a falar. Foi interrompida bruscamente. O rapaz a havia beijado, tão rápido e inesperadamente que ela nem chegou a fechar os olhos.
A moça o empurrou delicadamente, com os dedos. Ele se afastou sem protestar. Olhou para o chão envergonhado. Vi, ou imaginei ter visto, ele sussurrar: “desculpe”.
Ela falou alguma coisa que não pude ouvir. Passou os braços em volta de seu pescoço e lhe deu um beijo, dessa vez, com mais calma.
Ouvi meu relógio apitar. Eram duas horas da tarde. Hora de voltar ao trabalho. Não voltei a olhar para os dois, porque não me importava mais. O que aconteceu com eles, quem eram ou o que faziam, eu nunca soube. Mas aquela cena ficaria ali, guardada, por anos há fio em minha mente.
Ainda não entendo o que tinha de tão especial em uma cena como essa, ou talvez seja exatamente por isso que venho arrastando essa lembrança. Todos passaram indiferente ao casal, mas foi minha retina que ficou encantada. Fui eu quem os vi e sou eu quem conta essa historia. E eles nem sabiam que estavam sendo observados...