Céu, nuvens, dia ensolarado. Pessoas andando nas ruas, falando o tempo todo. Barulho de carros. Um cachorro latindo. Crianças correndo. Na casa ao lado, duas pessoas estão brigando. Sinto meus olhos arderem. Pela janela do quarto, a claridade bate em meu rosto. O sol me incomoda, mas fico feliz que ele ainda me visite. O cachorro parou de latir, mas logo vai recomeçar, eu sei. Posso ouvir as vozes dos vizinhos, e eles brigam por motivos tolos... Vão parar logo, e recomeçar mais tarde. É sempre assim.
Um carro buzina, alguém grita um cumprimento. Quem será? Não reconheço a voz. Da cozinha, mais sons. Um rádio ligado, uma panela de pressão... É hora do almoço. Duas pessoas estão conversando, quero saber do que falam, mas não consigo entender. Outro barulho na cozinha: uma panela caiu. Não é nada, isso sempre acontece.
Essa noite, sonhei que estava em um navio, e ele afundava. Acordei com o cachorro latindo. Acho que ele é um poodle, o cachorro. Ou algum cachorro pequeno. Não sei, nunca o vi, apenas o ouço. Ele fica na casa ao lado, e late quando os vizinhos brigam. Não sei se gosto dele ou se sinto raiva... Nos últimos dias, minha vida é feita de sons. Tudo é um som, o cachorro, os vizinhos... eles não tem forma, são sons. Deitado em minha cama, tudo o que vejo é o teto: branco, mas sujo e descascado, uma imagem horrÃvel. Deveria tê-lo pintado anos atrás. Se eu soubesse... Mas agora é tarde. O teto já não me preocupa, nem a claridade que bate em meu rosto, nem o cachorro sem raça, nem os vizinhos, nem os carros e as pessoas. Nesse momento, só tenho um único desejo: levantar e olhar pela janela.
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Geralmente não sou de escrever comentários sobre os textos que escrevo, mas vamos lá. Escrevi esse texto durante a aula de Ed. FÃsica, na escola, e não sei o que estava pensando - ou talvez sei. Geralmente não posto o que escrevo por aqui, mas acho que está na hora de perder a vergonha e passar a postar, certo? O que vocês acharam?
~sou péssima para tÃtulos, só coloquei porque tive que colocar~